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São João del-Rei não é só paisagem urbana. É paisagem humana!

São João del-Rei não é só uma paisagem urbana. Muito mais do que isso, São João del-Rei é uma paisagem humana. Os largos, os becos, as praças, as ruas tem vida, pulsam esperança, respiram gentileza, transpiram sonho, sonham saudades. São João del-Rei é são-joanense. Cidade e gente são uma coisa só, indissociáveis. Tanto que, mais do que em outros lugares, São João possui personagens emblemáticos, sem os quais não se consegue imaginar determinados territórios. O tempo passa, as vidas vão, mas os personagens permanecem na memória de quem os conheceu, impregnados na paisagem da qual faziam parte. Que bom que é assim, pois a memória eterniza. Alguém consegue imaginar o beco atrás da igreja do Rosário sem o Murilo, da bicicletaria? Difícil, não é? Pois é... Em fins do ano passado, bicicletaria fechada, ele andou sumido e fez muita falta. A saúde lhe requisitava cuidados, mas seu lugar estava guardado naquele cantinho antigo, amigo e poético. Seu lugar estava guardado nas procissões, que ele
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O dia em que Seu Sete, Rei da Lira, tirou a paz de São João del-Rei

  Desde sempre, São João del-Rei é uma cidade muito religiosa. Prova disto é o número de monumentos católicos que possui. Não apenas as igrejas, capelas e "Passinhos da Paixão de Cristo. No centro histórico e adjascências, uma infinidade de cruzeiros monumentais  e cruzes de pedra, madeira. ou ferro encimam pontes, povoam praças, habitam elevados ou simplesmente demarcam o território da fé.  Olhando rapidamente a paisagem colonial da cidade contamos 13, somente no perímetro compreendido entre o Alto do Bonfim, Senhor dos Montes e Gruta de Nossa Senhora do Rosário,  nas imediaçõoes do parque ferroviário. Mais do que meros monumentos, eles são elementos vivos de proteção e fé, pois muitos são-joanenses de todas as idades, ao passar por eles, a pé, de bicicleta ou de carro, interrompem seus" "pensamentos e palavras, atos e omissões", para fazer o sinal da cruz. Mas esta harmonia religiosa e espiritual foi quebrada na tarde de um certo domingo, 23 de agosto de 1971, qua

Paulinho foi para o céu, espelhar São João del-Rei no firmamento!

  Paulinho foi para o céu / com suas cores e seu pincel / pela flecha de Oxóssi, a espelhar São João del-Rei no firmamento.  Foi para o céu amorosamente lançado naquela flecha de prata que, retirada por empréstimo do peito de São Sebastião, o levou de entre nós, de uma única vez, para o sempre e para o nunca mais. São Sebastião é santo milagroso. Crê-se que nos livra da peste, da fome e da guerra. Mas não conseguiu desviar Paulinho de sua trajetória final rumo às estrelas, ontem, 20 de janeiro, dia que todo ano Lhe é dedicado.  A notícia deixou, em todos que conheceram Paulinho, um sentimento indefinido: finitude, incompletude, pesar, zelo, vazio, ausência, falta... Não que o pintor das delicadezas estivesse sempre à vista, pelas ruas, no vai e vem cotidiano ou em datas festivas. Não. Para quem o conheceu, Paulinho estava exatamente no "não-estar", ele existia na lembrança da gentileza que zelava em todos nós; na mansidão com que nos saudava com sua voz baixa e seu olhar lumi

São João del Rei no Caminho Literário do Ouvidor Cypriano

 Em lugar algum do mundo existe caminho que não leve a lugar nenhum. Pensando nisso, imagine a riqueza que é um caminho literário: rotas que ligam lugares, histórias, estórias, ideias,  palavras, versos,  poemas, poesias, paladares, memórias, músicas, romances, rimas, artes, fantasia, futuro, passado, sonho e imaginação... Assim será o Caminho Literário do Ouvidor Cypriano - primeiro roteiro turístico desta modalidade, unindo as cidades de São João del-Rei, São Gonçalo do Sapucaí, São Lourenço, Poços de Caldas e Três Pontas. Um caminho de história oficial e de histórias de vida. Um caminho de letras, de fatos e de lendas. Um caminho de saberes e de sabores. Um caminho de valores.  Um caminho de tempo, de flores e seus espinhos, de doces, de paladares, de brisa suave, orvalhos, águas límpidas, céu limpo. Um caminho de festas, de fé, de crenças, de dourado esplendor, de negro suor, de dor, de coragem, de resistência, de resiliência, de sonhos, utopias e realidades. Um caminho de verdade

Quarteto Del Rey. Flautistas de Hamelin no Natal de São João del-Rei

  Já faz alguns dias - se não me engano desde o começo da Novena de Natal - que o Menino Jesus desceu dos braços de Nossa Senhora do Rosário e não pode mais ser visto no altar-mor da igreja são-joanense que é sede da mais antiga Irmandade dos Homens Negros de Minas Gerais. Sobre isto, dizem que nestes nove dias ele sai em busca de si mesmo, se preparando para nascer outra vez, no  primeiro instante seguinte à meia-noite do dia 24 de dezembro, durante a Missa do Galo. Mas neste ano de 2023, às oito da noite do dia 21 de dezembro, ele deu uma pausa nesta sua introspecção e subiu a ladeira que leva à Capela do Divino Espírito Santo, encantado e embalado por um som sublime que fluía daquele alto. Era o "Concerto na Capella Especial de Natal", do Quarteto Del Rey. Quem já teve a felicidade de assistir a pelo menos um concerto do Quarteto Del Rey sabe que a beleza e a magia que emanam daqueles instrumentos e vozes são capazes de feitos fabulosos e extraordinários. Quase encantament

Antes do nada, São João del Rei já existia no útero das betas

  Algumas das mais importantes, originais, autênticas e atraentes riquezas históricas e turísticas de São João del-Rei não são valorizadas como tal e, salvo uma exceção, não estão disponíveis nem à mostra. Falo aqui das muitas betas existentes nas adjacências do centro histórico, remanescentes principalmente dos séculos XVIII e XIX. Antes do nada, São João del-Rei já existia no útero das betas, pronta para vir à luz no brilho do ouro. Não são muitas as cidades históricas brasileiras que possuem betas próximas às construções coloniais e que, por isso, podem enriquecer a experiência turística de quem as visita, conhecendo in loco os espaços e ambientes subterrâneos, criados há um, dois, três séculos, no afã de extrair ouro em abundância. Faz algum tempo (não muito, é verdade!) que uma beta, situada na Bica da Prata, teve reconhecido seu potencial histórico-turístico, e desde então vem atraindo os visitantes mais especificamente qualificados, que se interessam em conhecer mais do que as

São João del Rei na língua do povo: 50 ditados e expressões populares

 Na São João del-Rei de outrora, os ditados e expressões populares eram poderosos recursos de linguagem na comunicação informal. Nesta terra onde os sinos falam, a língua do povo falava muito estas curiosas, surrealistas e inusitadas expressões, muitas delas com cores e significados locais. Não são raros os são-joanenses, principalmente os mais vividos - para não dizer os mais antigos, ou, ainda, os mais velhos -, que ainda hoje, nas suas conversas cotidianas, usam estas enigmáticas expressões da sabedoria popular para: justificar ou reforçar opiniões pessoais ou de terceiros, transmitir conhecimento, alertar, aconselhar, advertir ou simplesmente colocar uma pitada de humor e tornar mais leve e lúdico um assunto, que muitas vezes é espinhoso, indesejável e indigesto. Com o tempo, muitos ditados populares foram se tornando menos propagados e, consequentemente, menos conhecidos e pouco transmitidos entre sucessivas gerações. Alguns chegaram muito perto do desaparecimento e hoje são menci

O Sagrado Rosário da cultura viva em São João del-Rei

  - São João del-Rei é uma cidade histórica, patrimônio cultural do povo brasileiro, certo? - Certo.  - São João del-Rei é um museu a céu aberto, certo? -  Não. Mas objetivamente isto não é bom nem ruim. É a realidade da cidade, fruto de sua própria história. E é a história que se escreve a si própria! - Como assim? - Nossa cidade se relaciona com seus bens materiais e imateriais a partir da dinâmica que é própria dos tempos atuais. Deste modo, tais bens deixam de ser coisa do passado para se tornar parte de um cotidiano em constante e espiral movimento. Analisando com objetividade, racionalidade e isenção, vemos que aqui, culturalmente, o passado não ficou congelado no passado, como em uma vitrine onde o tempo não passou. O passado em São João del-Rei não é uma representação, não pode ser descrito como "era uma vez". Ele continua vivo porque é revisitado e revivido, atualizado, como parte da vida dos são-joanenses, que são - eles próprios-, exclusivamente, os agentes e sujei

Todo dia é Sexta-Feira da Paixão em São João del Rei

  Quando o assunto é cultura, em seu sentido mais genuinamente antropológico, São João del-Rei é uma das cidades históricas brasileiras mais ricas e mais dinâmicas. Seu conjunto arquitetônico não é  uniforme nem homogêneo, mas o que isto importa? Seu casario de estilos diversos, característicos de sucessivas épocas, registra em si, como em nenhuma outra cidade histórica mineira, a passagem dos séculos com seus ciclos de evolução econômica, estética e social. Tão ou mais do que outras cidades surgidas no tempo do ouro, a cultura local é autêntica e peculiar, e mantém-se viva de modo natural e espontâneo. Tanto que, por não se pautar na realização de eventos de inspiração e motivação externa, para um público "estrangeiro", há quem diga, desavisadamente,  que em  São João del-Rei não se promove cultura. Mas dependendo do ponto de vista e do que se tem como cultura, quem pensa assim não está de todo errado, por uma razão muito simples: São João del-Rei " não vive de cultura

São João del-Rei persiste na "estranha mania de ter fé na vida!"

Quase nunca é um dia comum no centro histórico de São João del-Rei. Aliás, para ser mais exato, também quase nunca é uma noite comum no centro histórico de São João del-Rei. Basta ouvir os sinos de alguma das várias igrejas barrocas e sair pelas ruas e largos coloniais para ver que alguma coisa vai acontecer em breve. Se já não estiver acontecendo... Na verdade, nenhuma cidade histórica brasileira possui uma religiosidade tão forte e tão intensa quanto São João del-Rei e nem a vive no dia a dia, com tamanho entusiasmo e alegria. Aliás, sem falsa modéstia, com tamanho brilho e felicidade. É por isto que aqui os sinos falam e tudo é festa: Festa dos Passos, Festa do Espírito Santo, Festa do Carmo, da Boa Morte, das Mercês, Festa de São Benedito, do Bonfim, e tantas outras. O coroamento das Festas acontece sempre com uma (ou mais) grandiosa procissão. Não são raros os meses em que acontecem duas ou três, e até mais. Neste junho (2023), por exemplo, foram quatro, duas, inclusive, em uma ún