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Mostrando postagens de agosto, 2013

Sinais de São João del-Rei do outro lado e muito além da Serra do Lenheiro

Os são-joanenses quarentões e cinquentões certamente se lembram do selo acima - um adesivo plástico que na década de 80 foi afixado em muitos automóveis de São João del-Rei ou que passavam pela cidade. Nos veículos, além dos limites do município, informava a todos que a bordo possivelmente tinha um são-joanense ou alguém que nutria admiração e carinho pela cidade. Para os são-joanenses ausentes da terra onde os sinos falam, funcionava como um código de identificação nativista, que facilitava a descoberta e o encontro de conterrâneos bem abria caminho para aproximações e amizades. Mediado pelo adesivo, voltavam em memória a São João del-Rei. Hoje, São João del-Rei não tem mais uma peça que cumpra esta finalidade - ostentar a identidade e o orgulho de ser são-joanense. Aliás, salvo uma ou outra exceção, São João del-Rei é pobre em souvenirs que levem até muito longe lembranças da alma local, apesar de ser uma cidade tão rica de memória, patrimônio, arte e cultura... A cidade car

Tira-se o véu por trinta dinheiros em São João del-Rei. Findava agosto de 1755...

Mesmo nas solenidades mais tradicionais, tocantes e piedosas, como as da Festa de Passos e da Semana Santa, hoje é muito raro, nas igrejas de São João del-Rei, ver uma mulher usando véu para cobrir a cabeça, quando segue a caminho da mesa da comunhão. Até pouco mais do que a metade do século passado, este lenço retangular de renda fina e transparente ainda fazia parte do vestuário religioso feminino, como símbolo de respeito, devoção, obediência, pureza e elegância. A cor variava entre branco, azul claro, cinza e preto, sinalizando entre outras coisas a idade e o estado civil da jovem ou senhora que o véu usava. Poucos sabem, mas houve um tempo em que as mulheres de São João del-Rei só podiam andar em determinados espaços sagrados são-joanenses com a cabeça bem coberta por um gorro padrão, possivelmente adquirido da própria igreja. Prova disso é que no dia 28 de agosto de 1755, o padre comissário Manoel da Costa Faro propôs -  em reunião da Ordem Terceira de São Francisco d

Bicentenárias tradições religiosas são rico Patrimônio Imaterial de São João del-Rei

Sempre que se realiza em São João del-Rei alguma das muitas festas religiosas que fazem parte do calendário litúrgico local, reforça-se uma certeza: não existe, em nenhum lugar do mundo, outra cidade que preserve e mantenha, com tanta fidelidade, suas barrocas tradições religiosas como a " terra onde os sinos falam ". Nem que tenha cerimônias e solenidades tão ricas, complexas e sofisticadas, inclusive com repertório barroco próprio, composto e executado por músicos e maestros locais. A Festa de Passos, a Semana Santa e a Festa da Boa Morte são bons exemplos. Mesmo obedecendo rituais e liturgias dos séculos XVIII e XIX - já abolidos ou extintos em outras cidades - estas festas são tradições vivas, plenamente integradas ao cotidiano são-joanense contemporâneo, como elemento religioso, social e cultural. Daí se perpetuarem por quase trezentos anos sempre atuais, como, patrimônio pessoal, sentimental e afetivo do homem são-joanense e patrimônio cultural do povo deste lugar.

Barroca, erudita, acadêmica, clássica ou popular, tudo é cultura em São João del-Rei

São João del-Rei cada vez mais amplia a visão que tem de si mesma e percebe que a riqueza de sua cultura é quão mais preciosa quanto mais for múltipla, plural e diversa. É deste modo que folias de reis, congadas, folias de São Sebastião e Festa do Divino Espírito Santo a cada ciclo se tornam mais numerosas, mais frequentes, mais visíveis, mais respeitadas e mais reconhecidas, inclusive mais presentes em espaços do centro urbano, antes primazia das tradições barrocas. Há situações, inclusive, em que as manifestações populares e periféricas - na democracia que a cultura possibilita e legitima - se junta às celebrações oficialmente consagradas. Deste modo, ao mesmo tempo em que se consolidam como valorosas expressões da alma e do sentimento do povo de São João del-Rei, as manifestações populares passam a livremente transitar e a conquistar não só as áreas urbanas consideradas "nobres" mas também os espaços culturais que antes eram exclusivos da arte erudita, produzida e cons

PAC das Cidades Históricas - Em São João del-Rei, palavra de rei não volta atrás. Nem de Presidenta...

Mais uma vez São João del-Rei destacou-se no panorama de todas as cidades históricas brasileiras, da mais soberba à mais humilde. Neste 20 de agosto, mais uma vez a cidade recebeu um presidente da República, em 2013 a Presidenta Dilma Roussef. Na terra onde os sinos falam, ela anunciou a destinação de R$ 1,6 bilhões para o Programa de Aceleração do Crescimento das Cidades Históricas brasileiras. Nesta etapa, serão contempladas 44 cidades de 20 estados, com o desenvolvimento de 425 projetos de restauração de bens históricos, revitalização de espaços culturais e áreas circunvizinhas. Sem dúvida um marco importante que deve ser considerado homenagem da Presidência da República aos 300 anos da elevação do Arraial Novo de Nossa Senhor do Pilar do Rio das Mortes a Vila de São João del-Rei. Em seu discurso, Dilma Rousseff destacou o valor dos são-joanenses na história e na cultura do Brasil, entre eles o herói Tiradentes, sacrificado por defender a liberdade dos brasileiros frente ao c

Festa da Boa Morte em São João del-Rei . Elevada por anjos, vespertina, a cidade sobe aos Céus!

15 de agosto é um dos dias mais sublimes e gloriosos em São João del-Rei . Nele, todo ano, a Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte promove solenes celebrações para lembrar a assunção de Nossa Senhora aos Céus e, lá, sua coroação pelas três pessoas da Santíssima Trindade: Deus Pai, com seu áureo cetro; Deus Filho, com sua emblemática cruz, e Deus Espírito Santo - pomba de prata resplandescendo seus raios dourados. Nem bem amanhece  e os sinos da Matriz do Pilar repicam e dobram anunciando "A Senhora é Morta". Na metade da manhã, começa uma missa barroca, toda cantada em latim, que tem no canto do Glória o grande momento: os sinos tocam alegres, foguetes estouram ruidosos e, no altar dourado, Nossa Senhora da Assunção surge subindo ao Céu,  pé direito amparado sobre uma lua crescente, de prata. Tal qual na estória de Cinderela, ela está descalça de seus sapatinhos de seda. Bordados a fio de ouro e pedras brilhantes, estão caídos no imaginário e aéreo caminho. No entard

Festa da Boa Morte - Em São João del-Rei, um minueto que só é tocado no dia 14 de agosto

Em São João del-Rei existem músicas barrocas que são executadas unicamente uma vez no ano, em ocasiões especiais, seguindo as tradições de um calendário litúrgico que - criado no século XVIII - não  mais existe em nenhuma outra cidade do mundo. Em geral, são músicas de compositores locais. O link abaixo, por exemplo, leva ao Minueto para o dia 14 de agosto , de Luiz Batista Lopes, executado pela Orquestra Lira São Joanense, na abertura da missa cantada que precede a procissão de Nossa Senhora da Boa Morte. http://www.youtube.com/watch?v=JUPwZy8-oss&feature=youtu.be

Há cem anos o automóvel chegou a São João del-Rei. Pompa e circunstância, foi uma grande festa!

Mais interesse do que a subida do homem ao espaço e sua descida à lua, causou, há exatos cem anos, em São João del-Rei, a chegada do primeiro automóvel. Era 11 de agosto de 1913.                - Seu proprietário?                - José Galdino de Araújo! Acontecimento tão importante não poderia ser ignorado pela população. Muito menos pelo poder público. E não foi. Prova disto é que a Câmara Municipal de São João del-Rei se fez representar no evento pelo seu presidente, Dr. Augusto Viegas, e pelos vereadores militares major Francisco de Carvalho e tenente Francisco Neves. Em todo trajeto aplaudido e saudado pelos são-joanenses, vestidos em trajes de festa, o automóvel percorreu muitas ruas da cidade, " sem o menor incidente ", conforme noticiou o jornal O Dia.   Aproveitando o fato para anunciar boas novas, denunciar as condições precárias de algumas ruas de São João del-Rei à época e criticar os administradores, o jornal acrescentou: "Consta-nos que breveme

Cristo Redentor de São João del-Rei. Retrato de saudade e domingo azul na infância distante

Imagine tempos atrás São João del-Rei numa tarde fresca, clara e azul de domingo. Depois, imagine um almoço pródigo de macarronada vermelha de cebola e massa de tomate, muito queijo curado ralado, tutu de feijão feito de farinha de fubá torrado, frango caipira refogado em pedaços, Mirinda, Crush ou guaraná. Sobremesa, arroz doce com açúcar queimado e bastante canela, doce de figo, de mamão, goiabada cascão ou doce de leite. Menos o primeiro, todos os outros com fatias de queijo fresco.  Depois, cruzar com a família o Largo do Carmo, subir a sinuosa e comprida ladeira do Senhor dos Montes e, de vez em quando olhar para trás, para ver ficando miúdas as cruzes, as torres, as igrejas, a  estação ferroviária, os jardins coloniais, os quintais. Ouvir agora como a sussurar os toque miúdo dos sinos, o apito da Maria Fumaça ficando fraco e o silêncio, pouco a pouco, ir tomando conta de tudo em volta, para que apenas as vozes das crianças dessem ritmo, som e movimento às nuvens brancas

Festa da Boa Morte: você sabe o que os sinos falam em São João del-Rei?

São João del-Rei já conta as horas. Mais uma vez a lua nova, quase crescente, dará uma volta em torno da Terra e a cidade ouvirá um dos mais belos toques de sino, nela só existente: A Senhora é Morta. Criado e composto no século XVIII por um escravo, é um conjunto de repiques e dobres delicados e harmoniosos, por meio dos quais o sino da Boa Morte conversa com o sino pequeno, com o meião e com todos os outros das torres da Matriz do Pilar. Um conta para o outro: - A Senhora dormiu! Não vai mais acordar... O outro responde: - Dormiu. Foi pro Céu! E nos olha de lá... E então, juntos, eles anunciam para toda a cidade: - A Senhora dormiu! - Não vai mais acordar... - Dormiu. Foi pro Céu! - E nos olha de lá... Clique no link abaixo, preste atenção na entrega dos sineiros e responda: Não são os versos acima o que os sinos nos dizem? http://www.youtube.com/watch?v=ACZ_4zxojXQ

São João del-Rei celebrou exéquias para o rei da Itália, Humberto I

Não se sabe bem porque, mas  a simpatia e a afeição de São João del-Rei pela Itália fertilmente germinavam antes mesmo que chegassem à cidade os primeiros imigrantes italianos. E também que soldados são-joanenses imaginassem um dia atravessar oceanos rumo aos gelados campos de batalha italianos, para bravamente lutar na segunda guerra mundial. Tanto que no dia 9 de agosto de 1900 - ou seja, há 113 anos -, a cidade realizou solenes exéquias em memória do rei italiano Humberto I, assassinado por um compatriota anarquista no dia 23 de julho daquele ano- o primeiro do século XX. Até então, durante todo o período da colônia e do império, São João del-Rei realizava este tipo de solenidade fúnebre apenas para homenagear defuntos da família real portuguesa. Em nossa terra, as cerimônias póstumas dedicadas ao falecido rei Humberto realizaram-se num único dia, mas em dois locais e em duas ocasiões diferentes. Primeiro, foi um ato litúrgico, na igreja do Carmo, com participação especial da

Festa da Boa Morte em São João del-Rei - Fé sublime, originalidade, encantamento sem igual

Esta semana começou em São João del-Rei a segunda semana santa do ano: a Festa de Nossa Senhora da Boa Morte.  Também conhecida como “Semana Santa dos Mulatos”, tem duração de onze dias e comemora, com novena barroca, missa cantada e procissões, o trânsito de Nossa Senhora, sua subida aos Céus e coroação pelas três pessoas da Santíssima Trindade. Mas, neste caso, o que é trânsito? É a passagem de Nossa Senhora do mundo dos vivos para a vida eterna.  Segundo a fé católica, a mãe de Jesus não morreu: dormiu e passou, em alma, deste mundo para o outro. Em São João del-Rei esta fé é comemorada desde o século XVIII, pois em 1734 foi fundada a Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte da Vila de São João del-Rei. E certamente a partir daquela época os compositores mulatos são-joanenses começaram a criar as novenas, antífonas, solos,motetos, hinos e missas cantadas que são executadas  até hoje. Compositores contemporâneos, como Geraldo Barbosa de Sousa, se juntaram aos músicos barroc

1724 - São João del-Rei, com o coração em festa, abre ao mundo as portas da Matriz do Pilar

Há exatos 289 anos e seis dias São João del-Rei inaugurou um dos mais importantes monumentos da arte barroca brasileira: a Matriz nova de Nossa Senhora do Pilar. Era 28 de julho de 1724 quando o padre Alexandre Marques do Vale benzeu o templo, preparando-o para o que iria acontecer no dia seguinte - a solene trasladação do Santíssimo Sacramento, em procissão que saiu da antiga capela para sua nova morada. Acompanhando Jesus corporificado na hóstia consagrada, emoldurada por dourada custódia, carregada sob o pálio pelo padre  João da Fé de São Jerônimo Gurgel do Amaral, também vieram em andores muito enfeitados Nossa Senhora do Pilar, São Miguel Arcanjo, São Sebastião e São João Batista - este último, por ser padroeiro do Senado da Câmara da Vila de São João del-Rei, conduzido por homens da mais alta nobreza. Estando já as imagens dentro da igreja, após uma barulhenta queima de fogos, celebrou-se então uma missa cantada, sob responsabilidade musical do professor Antônio do Carmo.

A eterna primavera da fé em São João del-Rei

São João del-Rei é como um jardim, sempre em primavera a florescer. Todo mês, durante as festas religiosas, altares e andores em cascatas se cobrem das flores mais diversas: angélicas, antúrios, cravos, crisântemos, copos-de-leite, "egpsy", gérberas, hortências, lírios, margaridas, palmas e rosas, entre muitas outras. São as estrelas da terra luzindo gentileza, cor e perfume; brilhando fé, suavidade e devoção. Agosto, por exemplo, quando chega, acende em todos memórias antigas, que se tornam realidade nas ladeiras, largos e becos do centro histórico da terra onde os sinos falam. A bicentenária Orquestra Lira Sanjoanense afina instrumentos e vozes, ensaia partituras antigas para que, no período de 5 a 15, a música barroca de mulatos compositores locais se junte ao som dos sinos e ao perfume de incenso para criar ambiência celeste em honra a Nossa Senhora da Boa Morte, Nossa Senhora da Assunção, Nossa Senhora da Glória e também à Santíssima Trindade - Pai, Filho e Espírito